Sistemas de gestão: o hospital funciona sem eles?
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Nos últimos 15 anos, os softwares de gestão hospitalar vêm ganhando cada vez mais visibilidade e espaço no mercado. Após o desafio da informatização das instituições de saúde, enfrentado no início dos anos 1990, as empresas de tecnologia estão empenhadas em guiar os hospitais de ponta à era digital e ajudá-los a acompanhar as rápidas transformações pós-século XX. Nesse cenário, mais do que a absorção das constantes inovações, é preciso encontrar a solução apropriada para cada hospital.
Com a chegada da tecnologia em nuvem e de conceitos como interoperabilidade e acesso à informação, o verbo da vez é integrar. Para conquistar espaço nos maiores hospitais do país, o desenvolvimento de módulos personalizados com foco em necessidades específicas – que perpassam o suporte à decisão clínica e o gerenciamento de recursos, medicamentos, implantes e processos de enfermagem – têm sido as apostas de gigantes do setor de softwares no Brasil, como Philips, MV, Pixeon, Totvs, entre outras.
Para isso, os desenvolvedores têm refinado as ferramentas e apostado em produtos multitarefa e customizados, capazes de oferecer vantagens para gestores, assistência, pacientes e população em geral, proporcionando amplo acesso à informação, otimização do atendimento, participação ativa do paciente, interação à distância, e gerenciamento de indicadores financeiros e assistenciais.
Integração e custo-benefício
Na área financeira, o Hospital São Vicente de Paula, que possui a solução Tasy, da Philips, a utilização da ferramenta integrada contribuiu para a redução do nível de estoque em 35% e aumento de faturamento em 30%. Foram implementados módulos de contas a pagar, contas a receber, tesouraria, contabilidade, fluxo de caixa, repasse a terceiros (honorários médicos), orçamento e custos. “A organização obteve ganhos tanto no aspecto financeiro quanto qualitativo da informação”, comenta Renato Garcia Carvalho, CEO da Philips Brasil.
Já na assistência, o módulo de gestão de transplantes da mesma empresa é responsável por integrar o procedimento cirúrgico com outras fases do tratamento do paciente e a recuperação dos dados na Fundação Pró-Rim, especializada em transplantes de rim e pâncreas.
Além da informatização e integração de dados, o sistema oferece a possiblidade de unir todos os processos necessários durante o cuidado do paciente renal crônico, como, por exemplo, a criação das agendas de diálise com o controle de vagas por turno e por sorologias, o acompanhamento da hemodiálise e a administração de medicamentos utilizados pelo paciente, possibilitando saber a dose, controle de desinfecção de máquinas, cadeiras e salas de diálise, bem como a facilidade do faturamento pela integração do sistema clínico com o administrativo.
Modernização no A.C. Camargo
Tendo em vista seu objetivo de acompanhar a velocidade de mudanças tecnológicas, o A.C. Camargo Cancer Center, referência na área de Oncologia no país, incluiu em um planejamento estratégico, que engloba o período de 2016 a 2025, o Plano Diretor de Tecnologia da Informação (PDTI), com o objetivo de modernizar e integrar completamente o hospital. Nesse processo, a instituição adotou o Tasy como software de gestão para que todo o fluxo de prontuário e prescrição passasse a ser eletrônico e gerenciado pelo sistema.
“A 1ª fase contempla a implantação em nossa nova unidade, que será inaugurada em setembro desse ano. A previsão para a conclusão em todo o complexo e nas unidades hospitalares e de atendimento é janeiro de 2019. Dentro do planejamento, definimos uma frente específica de treinamento dos nossos colaboradores no novo sistema, durante aproximadamente três meses, em locais e horários estratégicos. Capacitaremos também os keyusers para que sejam multiplicadores de conhecimento em suas áreas de atuação”, explica Fausto Demarchi, gerente sênior de tecnologia da informação do A.C.Camargo.
CopaStar: integração desde a concepção
Idealizado nos moldes de um hotel cinco estrelas para ser o hospital do futuro, o CopaStar foi inaugurado no final de 2016 e pertence à Rede D’Or São Luiz. Desde sua concepção foi pensando para ser competitivo em tecnologia, com a missão de integrar os sistemas de diversos fornecedores, fazendo com que falassem a mesma língua e facilitassem o gerenciamento de informações. “Fizemos um mapeamento completo de tecnologia antes de abrir o hospital para que, desde o início de sua implementação, pudéssemos otimizar o tempo, deixando a equipe assistencial e de apoio em maior contato com o paciente e seu acompanhante, em vez de ficarmos apenas inserindo dados”, explica Jefferson Clock, diretor do CopaStar.
O projeto, liderado pela equipe de TI do hospital, já promoveu mais de 40 integrações, tornando o processo muito mais analítico, permitindo que as informações migrassem entre diferentes sistemas e conversassem diretamente com o prontuário eletrônico do paciente (PEP) por meio do Soul MV, sistema da MV.
“Basicamente, a MV tem um integrador próprio. O grande desafio foi desenvolver todas as integrações com os provedores para que pudéssemos fazer o gerenciamento adequado. Temos, atualmente, um painel junto à equipe de TI que faz o monitoramento dessas integrações”, comenta o diretor.
A funcionalidade trouxe uma otimização para todos os setores e foi notavelmente percebida. “Mesmo nas UTIs mais tecnológicas, é comum copiar informações dos monitores em um rascunho e depois passá-las para o prontuário eletrônico. Com a integração, o profissional consegue validar diretamente os dados”, explica Fabrícia Loro, gerente de enfermagem do CopaStar.
A praticidade também é revelada em exames. Quando um eletrocardiograma é solicitado, o profissional seleciona o nome do paciente já previamente inserido no sistema e acessa a prescrição feita pelo médico. Então, realiza o exame, e o resultado é compartilhado diretamente no PEP, sem que se imprima nenhum papel.
A prata da casa fica por conta do Smart Hospitality, sistema exclusivo desenvolvido pelo próprio hospital. Cada apartamento da unidade de internação tem iPad próprio, disponível para os pacientes. Com esse dispositivo pode-se contatar médico, equipe de hotelaria e de enfermagem, acessar quadro de tarefas referentes ao cuidado, controlar as luzes e persianas, além de avaliar o atendimento prestado.
”As chamadas do quarto para o posto de enfermagem podem ser feitas por videochamada. Os enfermeiros conseguem atender por meio de um telefone munido de câmera. Conseguimos enxergar o paciente por uma tela e, quando o vemos, entendemos melhor as suas necessidades naquele momento e vamos ao quarto de forma mais resolutiva”, explica a gerente.
O aplicativo também se mostra uma ferramenta de medição da qualidade percebida pelo paciente. “Além da avaliação por estrelas, há também um mecanismo que envia um SMS para o diretor do hospital quando um determinado número de chamadas não é atendido. Tudo isso para nos apoiar no equilíbrio entre tecnologia de ponta, resultados econômicos e qualidade percebida”, completa Klock.
Seja uma implementação do zero, na qual o planejamento é realizado junto com a construção do conceito do hospital, ou na adaptação de processos já existentes, os sistemas de gestão hospitalar têm cada vez mais ampliado o seu papel como integradores e fornecedores de ferramentas inovadoras, buscando estar um passo à frente na transformação digital pela qual o setor de saúde vem passando.
Independente da solução adotada, é preciso compreender as necessidades de cada instituição e entender que o desafio exige planejamento, reformulações e treinamento de equipes.Esse trabalho e investimento tem potencial para trazer retorno em todos os âmbitos a médio e longo prazos.